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CHIQUITANO: GUARDIÕES DA TERRA-MÃE



         Atualmente, várias comunidades de remanescentes Chiquitano se organizam para lutar pelos seus direitos e o reconhecimento de suas terras perante a sociedade. Conforme informações dos representantes Chiquitano da Terra Indígena Portal do Encantado e dos remanescentes Chiquitano que vivem na cidade de Cáceres divulgadas em palestras na Escola Estadual Onze de Março em 2018.



Figura 01: Palestra realizada na escola Onze de Março em abril de 2018, coordenado pela professora Ione A. M. Castilho Pereira com a presença de representantes dos povos indígenas Chiquitano do Portal do Encantado (Terra Indígena) Francelina Chue Poquiviqui e Aguinaldo Musquissavi Massavi e professores Chiquitano que atual da cidade de Cáceres Francisca Matucari e Esvanei Matucari e com a participação da professora Marli Auxiliadora Almeida representado a UNEMAT.
Fonte: Imagens de Ione Aparecida Martins Castilho Pereira / abril 2018


1. Atualidade



         No estado de Mato Grosso, os remanescentes dos povos indígenas Chiquitano vivem, em sua maioria, distribuídos pelos municípios de Cáceres, Porto Esperidião, Pontes e Lacerda e Vila Bela, todos fronteiriços com a Bolívia. Conforme estudos do antropólogo Aloir Pacini (2012, p. 276), esses descendentes são encontrados exercendo atividades na zona rural destes municípios, em comunidades junto à fronteira boliviana e nas periferias de cidades. No mapa a seguir, observamos a existência de algumas dessas comunidades remanescentes:


Mapa 01: Localização dos Chiquitano no Brasil

Fonte: Mapa Físico Político e Rodoviário com a localização das Comunidades Chiquitana publicada pela FUNAI em 2002, baseado nos estudos de José Eduardo Moreira Costa (2000).

         Da análise do mapa, tais comunidades presentes na zona rural no município de Cáceres-MT podem ser elencadas:








         Notoriamente dispersos, os remanescentes Chiquitano não possuem Terra Indígena (TI) demarcada no território pertencente ao município de Cáceres. De acordo com o site oficial da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), encontramos a informação que entre os municípios de Porto Esperidião, Pontes e Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade, há a existência de Terra Indígena (TI) dos Chiquitano – Portal do Encantado, sendo a única que está em fase de processo administrativo demarcatório.
         Na Bolívia (fronteira com Mato Grosso), os descendentes dos Chiquitano concentram-se, em sua maioria, nas províncias de Ñuflo de Chavez, Chiquitos, José Miguel de Velasco e Angel Sandoval no Departamento de Santa Cruz. Além disso, o historiador Roberto Tomichá Charupá (2002) reitera que além destas províncias citadas acima, a província de Germán Busch também tem a presença dos povos indígenas Chiquitano no qual corresponde com a localização geográfica que os jesuítas espanhóis descreveram no início do século XVIII.
         A partir da descrição de religiosos e colonizadores espanhóis, a expressão em espanhol chico que significa pequenino (criança pequena), denominar diversos e diferentes etnias da Província de Chiquitos. Assim, por analogia às moradias que tinham como estilo a porta de entrada que dava acesso ao interior da casa que era pequena, o termo que passou a identificar genericamente todas as etnias da região como Chiquitano.          Por isso, estes povos indígenas que habitavam aquela região (Província) foram errônea e genericamente denominados de chiquitos, dificultando a compreensão étnico-cultural dos subgrupos Chiquito e, ao mesmo tempo, criando vácuo etnográfico ao serem apelidados.


2. Aspectos Históricos da Formação dos Povos Chiquitano



Mapa 02: Localização das Missões jesuítas de Chiquitos na Bolívia.


Fonte: ARRUDA, Ariane Aparecida Carvalho, (2011:98).


         De acordo com o Mapa 2, vê-se que o aldeamento dos povos indígenas Chiquitano em Missões jesuíticas no final do século XVII, foi traçado pela Coroa Espanhola para explorar espaço geográfico, humano e conter os interesses lusitanos na fronteira Oeste.
         Ao considerar esse processo de aldeamento, Charupá (2002) analisou relatos de missionários espanhóis sobre os diversos grupos étnicos desta região “[...] A região chiquitana foi povoada por numerosos grupos indígenas sendo muito difícil senão impossível de completa identificação de uma das etnias que a habitavam.” (CHARUPÁ, 2002, p. 219, tradução nossa).[1] Daí, que nas fontes historiográficas referentes ao povo

1 “[...] la región chiquitana fue poblada por numerosos grupos indígenas siendo muy difícil sino imposible de completa identificación de cada una de las etnias que la habitaban” (CHARUPÁ, 2002, p. 219).

Chiquitano são considerados os numerosos grupos de povos indígenas que compunham e habitavam a Província de Chiquitos.
         A denominação comum utilizada pelos espanhóis ao referirem-se aos vários grupos étnicos do planalto de Chiquitos ou Chiquitano veio nos dias atuais a dificultar a identificação desses povos. Segundo Charupá (2002), essa maneira genérica de chamá-los resultou na seguinte classificação:








         A ocupação indígena da região denominada Chiquitos ou Chiquitania era muito diversa e dispersa, logo a partir da dominação dos colonizadores a organização dos grupos indígenas sofreram consequências negativas, seja pela imposição do regime de trabalho “encomenda” (encomenda), pela escravidão e as reduções em missões jesuíticas.

2 “En otras palabras, llamamos “chiquitanos” a todos los nativos reducidos que, prescindiendo de la propia nación o cultura de origen y después de un período de aculturación, reducional, incorporaran la lengua chiquita como medio de comunicación habitual. Por el contrario, como ya se ha dicho, llamamos “chiquitos” a aquellas etnias que ya antes de su conversión a la fe cristiana hablaban la lengua chiquita (CHARUPÁ, 2002, p. 231).





Figura 02: Indienne de Xiquitos’, na missão de São Rafael.Talvez a última ilustração de Adrien Taunay. Fonte: Disponível em: Folha do meio > Acesso dia 09/03/2020


         Em consonância os autores, Arruda (2011, p. 103) e Charupá (2002) demostram que dez Missões foram criadas pelos jesuítas, no final do século XVII, na Província de Chiquitos. Desde os anos 1691 a 1760, foram fundadas respectivamente, as missões de: São Francisco Xavier (1691), São Rafael (1696), São José de Chiquitos (1696 e 1698), São João Batista (1699 e 1716), Concepción (1709 e 1722), São Miguel (1721), São Ignácio de Chiquitos (1748), Santiago (1754), Santa Ana (1755) e Santo Coração de Jesus (1760).
         Os povos indígenas Chiquitano viviam reduzidos em missões fundadas pelos jesuítas espanhóis na região Chiquitania, a exemplo da Missão/Redução de Concepção, conforme a ilustração (figura 03), a seguir.



Figura 03: Missões/Redução Concepión (1709 e 1722) (pespectiva general de la plaza, posas, templo y cuarteles) in Ortiz, 2007.

Fonte: PEREIRA, Ione Aparecida Martins Castilho (2014, p. 164)

         Roberto Tomichá Charupá (2002), após analisar atentamente o Livro de Batismos de San Xavier (1738 – 1769), escritos por missionários, pode identificar inúmeras etnias das missões da Província de Chiquitos, dentre elas: São Rafael, São João Batista, Santa Ana e Santo Coração de Jesus, das quais fugiram vários indígenas e, posteriormente vindos para o lado lusitano, contribuindo para a fundação do povoado em 06/10/1778 de Vila Maria do Paraguai, conforme o descrito no Termo de Fundação.
         Assim, a partir das informações do historiador Charupá (2002), observa-se as diversas e diferentes etnias tornadas e/ou incorporadas como etnia Chiquitano/a., temos a seguinte tabela:

Quadro 01: Etnias das Missões de Chiquitos (São Rafael, São João Batista, Santa Ana e Santo Coração de Jesus) - séculos XVII - XVIII

Fonte:Charupá (2002, p. 281-292).

         A proximidade com as fronteiras de domínio dos portugueses e a expulsão dos padres jesuítas das reduções fez com que muitos indígenas fugissem para o posto militar do Registro do Jauru (atualmente, onde está Porto Esperidião) sob o comando lusitano, como registram diversos documentos históricos. Assim, podemos considerar que há uma estreita ligação entre os indígenas de Chiquitano oriundos das missões de São Rafael, São João Batista, Santa Ana e Santo Coração de Jesus com a fundação de Vila Maria do Paraguai (1778), mais precisamente para o posto militar denominado Registro do Jauru, época atual, região onde se localiza o município de Porto Esperidião. Na ocorrência e sequência desse evento, a autoridade do governante português incorporou os indígenas Chiquitano na composição do povoado de Vila Maria do Paraguai, em 1778.



Figura 04: Indígenas das missões espanholas de Chiquitos, em Casalvasco. Aimé-Adrien Taunay (1827). Acervo da Academia de Ciências de São Petersburgo, Rússia.
Fonte: Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/1786531/ > Acesso dia 09/03/2020.


         Segundo o historiador Charupá (2002), por agrupar diversas etnias, a língua Chiquita era predominante nas Missões na Província de Chiquitos. Assim, ela se tornou fundamental durante colonização como meio de comunicação entre os povos indígenas e os colonizadores.
         A língua Chiquita era composta por quatro dialetos: Tao, Pinoco, Manasi e Penoqui. E, ainda entre outras etnias que viviam nas Missões da Província de Chiquitos, coexistiam a Arawaca, Chapacura, Guaraní, Otuqui e Zamuca.. Com isso, resultando numa diversidade e riqueza cultural dentro das Missões Jesuítas.


3. Chiquitano: Os Pequenos “Guardiões das Fronteiras”



         A respeito da relação cotidiana dos Chiquitano com o trabalho, a centralidade da agricultura é apontada por Charupá (2002, p.301, tradução nossa) como uma das atividades desenvolvidas pela maioria dos grupos étnicos: “Os chiquitos ocupavam a metade de jornada de trabalho nas atividades agrícolas”. E, acrescenta que “Entre as nações não chiquitanas reduzidas (aldeadas/missões) que conheciam a agricultura tem que pontuar de modo especial as etnias de línguas arawaca e os puizocas”.[3]

3“Los chiquitos ocupaban la mitad de la jornada laboral en atividades agrícolas”. (CHARUPÁ, 2002, p.301) “Entre las naciones no chiquitas reducidas que conocían la agricultura hay que señalar en modo especial las etnias de lengua arawaca e los puizocas” (CHARUPÁ, 2002, p.301)

         Apesar da importância que davam ao trabalho com a agricultura, muitos Chiquitano eram sedentários ou semi-sedentários, alternando períodos de perambulação e de fixação (CHARUPÁ, 2002, p. 302). Apesar disso, tinham grande apego às suas terras, onde viviam e praticavam a caça, pesca, coleta de frutos silvestres e mel. Os sedentários mantinham o hábito da caça, pesca e a agricultura (cultivo do milho, mandioca, tabaco, diversos tipos de abóbora etc.) através do sistema de roça e queima para o plantio.
         A historiadora Ione Aparecida Martins Castilho Pereira (2014) destacou, em sua tese, o sedentarismo dos povos Chiquitano baseado no relato do padre Julián Knogler





         No aspecto central da cultura, Giovani José Silva (2009) destacou que a organização social da maioria dos povos indígenas Chiquitano compunham-se de sociedades igualitárias e que as decisões eram debatidas entre os membros adultos para chegar à um acordo comum a todos. Nesse intento, destacando que “[...] não produziam excedentes, não havendo, pois, grandes diferenças econômicas entre as famílias extensas que formavam os grupos” (SILVA, 2009, p. 115).

         No entanto, quando tiveram contatos com os colonizadores os espanhóis, enfrentaram mudanças nas suas práticas econômicas através do incremento de excedentes e introdução da criação de gado bovino. Este alimento veio a tornar-se a referência alimentar e do abastecimento da Província de Chiquitos. Ademais, os povos indígenas Chiquitano foram incentivados na criação de galinhas e porcos, na extração de produtos nativos como a erva mate e a poaia.

         A antropóloga Denise Maldi Meireles (1989), em sua obra Guardiões da Fronteira: rio Guaporé, século XVIII, destacou que os indígenas Chiquitano foram treinamentos pelos jesuítas para exercerem atividades variadas, a medida que fundaram as primeiras missões. Para a viabilidade dos aldeamentos, os religiosos incentivaram a produção de gado bovino, cavalar, de galinhas e ovos, sendo que buscou-se a garantia de produtos agrícolas (arroz, milho, legumes, bananas, cacau e cana-de-açúcar) para o comércio além de suprir o mercado interno. Segundo a autora “[...] os índios deveriam receber treinamento em carpintaria, marcenaria e outras habilidades e, finalmente, cada uma deveria ter uma área de cultivo de exportação para o Peru” (MEIRELES, 1989, p. 82).

         A partir das informações de Meireles (1989), percebemos que os Chiquitano adquiriam hábitos alimentares e de produção dos alimentos dos colonizadores, mas sem abandonar suas tradições de uso do milho, mandioca, banana, abóboras, algodão arbustivo, caça, pesca, ervas medicinais, terapias curativas, artesanatos de madeira, argila, couros, cestaria, tecelagem, etc. Muitos pesquisadores consideram a adoção de tecnologias, de variedades agrícolas novas como cítricos, trigo, arroz, frutas, gado bovino, cavalar, porcos, galinhas e outras espécies alimentares como perda de identidade.


4. A Família como Base da Sociedade





Figura 05: Índios Castelhanos
Fonte:SILVA, Renata Bortoletto (2007, p. 65)


         Em se tratando da estrutura familiar dos Chiquitano, Charupá (2002) destaca que a constituição familiar desses indígenas era monogâmica, com a predominância de famílias patriarcais onde o matrimonio entre os Chiquitano deveria seguir certos requisitos:





4 “El matrimonio entre los chiquitos debía cumplir ciertos requisitos como el hecho que el padre de familia sólo cedia en casamiento a su hija si el pretendiente a esposo mostraba con alguna proeza (por ejemplo, una buena y abundante caza) su capacidad de mantener a la futura esposa” (CHARUPÁ, 2002, p.311).

         Em suas pesquisas, Charupá (2002) destaca que a monogamia era uma das características da formação das famílias entre os Chiquitos, entretanto a poligamia era praticada pela figura do cacique que poderia ter mais de uma mulher. Características culturais muitas vezes justificadas em razão de suas atribuições perante a comunidade em que liderava, como por exemplo, organizar festas, fazer chicha (bebida tradicional) para servir em momentos especiais na comunidade.
         Vários dos povos indígenas Chiquitano eram semissedentários, como indica a forma de construção de suas casas, descritas por espanhóis nos primeiros contatos com esses indígenas, sendo que as moradias eram consideradas casas simples e com formato de forno e feito com palhas (CHARUPÁ, 2002, p. 318).

         A antropóloga Alda Lúcia Monteiro Souza (2009) em sua dissertação A história dos Chiquitanos: (re)configurações sociais e territoriais, reitera que:







         Com relação à descrição do formato das aldeias indicadas acima, observa-se que as organizações destas, também foram retratadas por representantes religiosos que tiveram contato com os Chiquitano. Conforme representação de Hans Roth (1993), a partir do desenho elaborado pelo Padre Burgés, em 1703 que, encontra-se exposto no Museu de História de Santa Cruz/Bolívia.




Figura 01 : Descrição de casa Chiquitano por Jesuítas na Missão de Chiquitos (1703)
Fonte:Aloir Pacini (2012, p. 421).


         As casas eram simples, o material mais utilizado para a construção era a palha, mas havia uma construção que os próprios jesuítas mantiveram ao serem reduzidos nas Missões, a chamada casa comum. Em sua tese Renata Bortoletto Silva (2007) explica que: “[...] Nas aldeias existiam também as chamadas casas dos homens, um espaço cerimonial, onde ficavam os garotos na puberdade. Eram construções abertas, e lá recebiam os visitantes e faziam as festas” (SILVA, 2007, p. 44).
         E, ainda a propósito do adolescente, salienta-se ainda que aos quatorze ou quinze anos permaneciam neste espaço cerimonial por um tempo e, logo poderiam constituir sua própria família, desde que provasse que poderia sustentar sua futura companheira através da caça. Além de ganhar prestígio na comunidade, uma vez que, “[...] caçadores hábeis eram tidos com muito orgulho pelo grupo” (SILVA, 2007, p. 45). Sendo esta casa um espaço cerimonial ali também recebiam hóspedes, realizavam muitas festas. A principal bebida servida aos convidados era a chicha feita do milho e distribuída nas ocasiões especiais e nos festejos.
         Chicha uma bebida tradicional dos Chiquitano e continua sendo apreciada pelos
Chiquitano, conforme aponta Pacini (2012):

“Pote chiquitano (tinaja) no museu de Santa Ana. Nas casas existem vários potes de cerca de um metro de altura que utilizam para recolher a agua da chuva. Outros potes são usados para preparar e fermentar a chicha e antes também eram usadas para fazer açúcar. (PACINI, 2012, p.543 e 550)
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5. A Importância dos Xamãs na Crenças dos Povos Chiquitano



         As crenças dos povos indígenas de Chiquito segundo os missionários: “[...] coinciden en señalar la carência de una divindade suprema entre los chiquitos” (CHARUPÁ, 2002, p. 328).[5]Isto não significa que não tinham suas crenças. Os relatórios dos jesuítas também dão algumas pistas que existiam crenças como Meireles (1989):









         Os Xamãs faziam um papel de interlocutores entre os humanos e os seres sobrenaturais que agregavam funções de chefia e feitiçaria. E podemos destacar as divindades cósmicas: o sol, a lua, as estrelas e animais. Sendo que, os povos indígenas com o dialeto Manasí, o sol era venerado como “[...] um homem luminoso [...] no caso da lua, os chiquitano a honravam com o título de “Mae”, mas sem um culto especial senão durante os eclipses.” (CHARUPÁ, 2002, p. 333, tradução nossa).[6]
         Segundo Charupá (2002), em geral não havia uma divindade suprema entre os chiquitos. Assinala também ao interpretar o relato do padre Francisco Burgés da Companhia de Jesus na Província de Paraguay, evidencia que esse jesuíta considerava os Chiquitos como um povo mais bárbaro em relação às demais nações, visto que não reconheciam e nem respeitavam nenhuma divindade.
         Por outro lado, Verone Cristina Silva (2015) na tese Carnaval: Alegria dos Imortais - Rituais, pessoa e Cosmologia entre Chiquitano no Brasil, afirma que uma das festas mais tradicionais deste povo é o Carnaval, celebração que representa o começo do mundo:






         Salienta-se que é uma celebração religiosa dos Chiquitano, contradizendo o relato de Francisco Burgés, quando afirmou que era um povo bárbaro, e que segundo Cristina Silva (2015) atualmente a celebração do carnaval acontece “[...] na mesma data do carnaval ocidental, contudo há um calendário ritual próprio que marca o fim e o início

5 Tradução: “[...] coincidem em pontuar a falta de uma divindade suprema entre os chiquitano” (CHARUPÁ, 2002, p. 328). 6 “[...] un hombre luminoso [...] en el caso de la luna, los chiquitos la honraban con el título de “Madre”, pero sin un culto especial sino durante los eclipses” (CHARUPÁ, 2002, p. 333) (CHARUPÁ, 2002, p. 333).

De um novo tempo, pois consideram que, depois do carnaval, vem o Ano Novo” (SILVA, 2015, p. 15).
         Portanto, o carnaval tem todo um ritual, com elementos culturais reúnem toda a comunidade para celebrarem e ao mesmo tempo consumirem uma das bebidas mais tradicionais, a chicha (bebida fermentada do milho), além de dançarem ao som do curussé, dança de origem chiquitana. Pacini (2012, p. 528) descreve a dança através dos relatos descritos pelo Padre Burgés em 1703 que registrou uma festa, em que fazem uma roda em torno dos músicos com “flautas largas”, além de alguns instrumentos que foram incorporados a partir do contato com os jesuítas como o violino. Contudo, as pesquisas indicam que já tinham a tradição de dançar e tocar instrumentos antes mesmo dos jesuítas chegarem na região que ficou conhecida como a província de Chiquitos.


Por Luciana Martinez de Oliveira Costa.

COSTA, Luciana Martinez de Oliveira. A Presença de Povos Indígenas Chiquitano, Bororo, Guató e Guaná em Vila Maria do Paraguai e São Luiz de Cáceres (1778-1874): Uma Abordagem de Temática Indígena Na Educação Básica. Cáceres, 2020. Dissertação (Mestrado Profissional ProfHistória), Unemat.

Link da dissertação completa


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARRUDA, Ariane Aparecida Carvalho. Condicionantes étnicos na criação das missões de chiquitos: alianças e conflitos na chiquitania e no pantanal (1609-1691). Porto Alegre, 2011. Dissertação (Mestrado), PUCRS.

CHARUPÁ, Roberto Tomichá, R. La Primera Evangelización en Las reducciones de Chiquitos, Bolivia (1691-1767): protagonistas y metodología misional. Cochabamba: Verbo Divino, 2002.

FUNAI. Terras indígenas. Disponível em Funai.gov.br > Acesso em 09 de Mar. 2020.
PACINI, Aloir. Identidade étnica e território Chiquitano na Fronteira (Brasil-Bolívia). Porto Alegre, 2012. Tese (Doutorado em Antropologia Social) IFCH/UFGS.
PEREIRA, Ione Aparecida Martins Castilho. Missão jesuítica colonial na Amazônia Meridional: Santa Rosa de Mojo uma missão num espaço de fronteira (1743-1769) – Porto Alegre, 2008. Dissertação (Mestrado), PUCRS.

SILVA, Renata Bortoletto. Os Chiquitano de Mato Grosso: um estudo das classificações sociais em um grupo indígena de fronteira Brasil – Bolívia. São Paulo, SP. 2007. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) – Universidade de São Paulo – USP.

SILVA, Verone Cristina. Carnaval: Alegria dos Imortais – Rituais, pessoa e Cosmologia entre Chiquitano no Brasil. São Paulo, SP. 2015. Tese (Doutorado em Antropologia Social), USP.

SOUZA, Alda Lúcia Monteiro de em sua dissertação - A história dos Chiquitanos: (re)configurações sociais e territoriais. Brasília, DF. 2009. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) UNB.


[1]“[...] la región chiquitana fue poblada por numerosos grupos indígenas siendo muy difícil sino imposible de completa identificación de cada una de las etnias que la habitaban” (CHARUPÁ, 2002, p. 219).

[2]“En otras palabras, llamamos “chiquitanos” a todos los nativos reducidos que, prescindiendo de la propia nación o cultura de origen y después de un período de aculturación, reducional, incorporaran la lengua chiquita como medio de comunicación habitual. Por el contrario, como ya se ha dicho, llamamos “chiquitos” a aquellas etnias que ya antes de su conversión a la fe cristiana hablaban la lengua chiquita (CHARUPÁ, 2002, p. 231).

[3] “Los chiquitos ocupaban la mitad de la jornada laboral en atividades agrícolas”. (CHARUPÁ, 2002, p.301) “Entre las naciones no chiquitas reducidas que conocían la agricultura hay que señalar en modo especial las etnias de lengua arawaca e los puizocas” (CHARUPÁ, 2002, p.301)

[4] “El matrimonio entre los chiquitos debía cumplir ciertos requisitos como el hecho que el padre de familia sólo cedia en casamiento a su hija si el pretendiente a esposo mostraba con alguna proeza (por ejemplo, una buena y abundante caza) su capacidad de mantener a la futura esposa” (CHARUPÁ, 2002, p.311).

[5]Tradução: “[...] coincidem em pontuar a falta de uma divindade suprema entre os chiquitano” (CHARUPÁ, 2002, p. 328).

[6]“[...] un hombre luminoso [...] en el caso de la luna, los chiquitos la honraban con el título de “Madre”, pero sin un culto especial sino durante los eclipses” (CHARUPÁ, 2002, p. 333) (CHARUPÁ, 2002, p. 333).